TERRA

ORIGEM E TRAJETÓRIA​

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Cresci em Belo Horizonte, Minas Gerais, imersa nas serras e águas do cerrado. Minha trajetória como artista e pesquisadora de tintas feitas com pigmento da terra é uma jornada entrelaçada com as raízes da minha infância, marcada por momentos especiais nas cachoeiras que frequento desde pequena.

Em meio às águas, minha brincadeira favorita era pintar o corpo com pedras que liberavam pigmentos coloridos ao serem esfregadas. Essa região de Minas, rica em óxido de ferro, proporciona cores vibrantes como o amarelo ocre, laranja e vermelho terroso, revelando a beleza natural do cerrado mineiro.

Em 2016, junto aos colegas do Movimento Águas do Gandarela, idealizamos um projeto de pintura em Rio Acima, utilizando as cores de terra locais. Essa iniciativa buscava resgatar a memória da brincadeira de extrair pigmentos da terra, uma prática que marcou minha infância. Embora o projeto ainda não tenha se concretizado, essa ideia acendeu uma luz dentro de mim, reavivando minha conexão com a terra.

Minha trajetória com a terra ganhou contornos mais definidos a partir de 2017, quando tive o privilégio de conhecer o artista visual Jhon Bermond, um verdadeiro mago dos pigmentos naturais. Participar de oficinas em 2019, ministradas pela artista Silvia Carvalho de Florianópolis, e uma experiência virtual em 2020 com o próprio Jhon, expandiram meus horizontes e me deram um norte para continuar a desenvolver minha pesquisa com os pigmentos minerais.

Em agosto de 2020, realizei uma residência independente na Serra do Gandarela, local que testemunhou minha infância e o encantamento pelos pigmentos saturados. O resultado foi uma rica paleta de cores de terra variadas e a criação da série Gandarela, uma visualização artística das paisagens e cenas vividas durante essa experiência.

De 2019 a 2021, viver na ilha de Florianópolis permitiu meu desenvolvimento como pintora muralista, além de continuar minha pesquisa de tintas de terra, explorando as diversas cores disponíveis na própria ilha.

Em 2022, minha mudança para São Paulo marcou o início de oficinas de tintas de terra em meu pequeno ateliê, culminando em sequência uma parceria com a Casa Guararapes na capital paulista, onde agora ofereço oficinas com frequência.

Em parceria com o Sesc Jundiaí, pude ministrar oficinas de pintura de parede com tintas de terra, proporcionando experiências colaborativas na execução das obras. Além disso, em colaboração contínua com o Sesc, vivenciei momentos enriquecedores ao pintar brincadeiras no piso e transmitir conhecimentos sobre os pigmentos minerais a crianças de diferentes faixas etárias.

Atualmente, sigo dedicada a aprender e experimentar com a terra. Inicialmente, a técnica de preparo vinílico predominava, mas tenho explorado e apreciado o preparo da terra como tinta a óleo, pela conservação e tempo de produção das telas.

As tonalidades terrosas, mesmo quando de origem sintética, foram integradas de maneira orgânica à minha paleta, harmonizando-se com a minha trajetória pessoal e identidade artística. Em conjunto, os matizes azuis estabelecem uma interação entre a vastidão celeste e a solidez terrena, como opostos complementares.